Ballrooms: a linguagem, a subversão e as amarras
Henrique Cintra Santos
Estudos sobre diversidade sexual e de gênero: atualidades, temas, objetos, 2020
A cultura dos Ballrooms surgiu por volta da década de 1970 no bairro do Harlem em Nova York e consiste em uma cultura LGBTQI+ de competição e performance em que novos sistemas de gênero são forjados e tais indivíduos criam redes de apoio social, emocional e, algumas vezes, financeiro a fim de lidar com as repressões des- ses grupos frente uma sociedade heteronormativa. Hoje essa cultura se encontra em processo de transnacionalização, tendo o Brasil como um dos principais cenários. As potencialidades subversivas das práticas dessa cultura, principalmente em relação às normas de gênero, têm recebido uma atenção maior, ainda que não suficiente, de pesquisas acadêmicas. No trabalho presente, no entanto, foca-se no papel da lin- guagem em relação à subversão (ou não) das injúrias destinadas a esses indivíduos na sociedade, como também a dinâmica entre o controle linguístico e as relações de poder que são estabelecidas entre os grupos dos Ballrooms estadunidenses e aque- les desenvolvidos em novos locais, em especial aqui o Brasil. Para ilustrar e respaldar a discussão apresentada, foca-se na análise do evento Vogue Fever de 2016, um ball realizado anualmente na cidade de Belo Horizonte. Como resultado, percebe-se que a cultura dos Ballrooms se engaja em um empreendimento de subversão de termos injuriosos que são destinados a esses grupos na sociedade hegemônica, mas ao mes- mo tempo os grupos de Ballrooms estadunidenses tomam a linguagem como forma de dominação dos grupos dessa cultura desenvolvidos em outros países. Percebe-se que tais amarras são projetadas sob o discurso que a manutenção dos termos dos Ballrooms na língua inglesa garantiria certa originalidade aos grupos brasileiros. No entanto, como se observa no evento Vogue Fever de 2016, já se percebem certos es- capes dessas amarras, o que aponta para a necessidade de atendimento às necessi- dades locais dos indivíduos LGBTQI+ brasileiros.
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Cabe a cultura Ballroom em pixels? Enquadrando um movimento de resistências na tela de um smartphone
Revista Dispositiva
Samuel Rubens. Revista Dispositiva, v. 12, n. 22, 2023
https://doi.org/10.5752/P.2237-9967.2023v12n22p291-312 | Resumo: A cultura Ballroom é um movimento de resistência LGBTQIAPN+ criado por mulheres trans afro-latinas em Nova Iorque na década de 1970 e consiste em um conjunto de práticas ritualizadas, com formação de grupos de parentesco, bailes de competições, conhecidos como balls, e um sistema de gênero próprio. O BH Vogue Fever é a maior ball da América Latina e em 2021, em decorrência das limitações impostas pela pandemia, realizou uma série de lives de aquecimento para sua sétima edição. Este trabalho tem como objetivo refletir sobre os quadros de sentido das interações da cultura Ballroom no contexto brasileiro pandêmico a partir da análise dessas lives. Partimos da filosofia pragmatista, bem como da abordagem relacional da comunicação, para refletir sobre as dinâmicas dessas interações. Foi constatado que as interações no contexto online trouxeram possibilidades e limitações para a resistência da Ballroom.
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DANÇA VOGUE COMO FORMA DE LIBERTAÇÃO SOCIAL / VOGUE DANCE AS A FORM OF SOCIAL LIBERATION
Abimael Junior S Santos, Walace Rodrigues
Policromias - Revista de Estudos do Discurso, Imagem e Som, 2024
Este artigo busca refletir sobre a dança como forma de linguagem expressiva e de resistência cultural. Focamos este trabalho num estilo de dança norte-americana intitulado Vogue e popularizado por uma música e videoclipe da cantora Madonna. Utilizamos uma pesquisa bibliográfica e uma análise qualitativa para dar conta de compreender a dança Vogue como poderosa ferramenta artística da década de 1980 para os grupos LGBTQIA+ novaiorquinos. Os resultados deste trabalho revelam as intrincadas relações entre vida social, arte, vida familiar, estilos de vida, moda e muitos outros temas relevantes para os LGBTQIA+ praticantes dos bailes de Vogue. Também, demos a compreender como o Vogue se colocou como forma de linguagem enquanto arte de contestação e de sobrevivência no underground gay norte-americano.
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REIS, Bruno. Performatividade de gênero, classe e raça na cena ballroom carioca
Bruno Reis
Carnes Vivas, 2021
O presente artigo tenta pensar sobre a cena ballrom carioca e a produção dessa comunidade dançante/performática a partir dos estudos da performance e da teoria da performatividade.A ballroom como espaço liminal, a performatividade do gênero e da sexualidade e outros marcadores sociais. A normatividades enquanto dispostivos coreográficos que são subvertidos na cena ballrom.
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Sons, corpos e lugares: para uma metonímia das cidades musicais contemporâneas
Paula Guerra
2021
O presente artigo pretende demonstrar que as cidades musicais se tem metamorfoseado. Estas sao compostas por outros espacos, corpos e movimentos que marcam, tambem elas, as suas sonoridades. Este ensaio tem como foco a percecao do voguing enquanto um elemento essencial na criacao e de demarcacao das cidades musicais contemporâneas no Sul Global. Partindo da sua contextualizacao historica, o artigo centra-se num exemplo explicativo desta dimensao. Do corpo enquanto palco de resistencia, mas tambem enquanto materializacao de multiplos processos de exclusao social. Mais ainda, entendemos o voguing e o corpo como formas e modos de existencia, dentro de uma sociedade patriarcal e profundamente opressora das comunidades LGBTQI+. Para o efeito, uma vez que nos debrucamos sobre o corpo enquanto matriz performativa dos/nos espacos urbanos, relacionais e sociais, tomamos de assalto um conjunto de fotografias que demonstram estas afirmacoes, todas elas referente a House of Imperio, uma house -...
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Afronta, vai, se movimenta!: uma etnografia da cena preta LGBT de São Paulo
Bruno Nzinga Ribeiro
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2021
Desde meados da década de 2010 tem sido notável a emergência de uma nova cena políticocultural, por meio da ressignificação de estéticas e estilos relacionados à cultura negra e à mobilização do corpo como elemento fundamental. Forjados no interior de “festas pretas LGBT”, essas novas formas de atuação impactaram de modo significativo movimentos sociais e outros conjuntos de festas e produções culturais na cidade de São Paulo, possibilitando a constituição e o fortalecimento de determinados sujeitos políticos e de carreiras profissionais, artísticas e/ou ativistas com notável visibilidade. Nesta dissertação busco aprofundar a compreensão acerca da relação entre estética, corpo e ativismo, a partir das relações na cena preta LGBT da cidade de São Paulo, tendo como objeto empírico coletividades políticoartísticas organizadas e orientadas para um público LGBT negro, a saber: a festa Don’t touch my hair, a Batekoo e o Coletivo Amem, como também suas conexões com a cena Ballroom. A pesquisa é baseada no método etnográfico, compreendendo trabalho de campo nos eventos e pesquisa documental complementada com conversas informais e entrevistas semiestruturadas. Neste estudo, intento contribuir com uma reflexão acerca dos entrecruzamentos entre raça, gênero, geração e sexualidade, utilizando como marco teórico produções antropológicas que se debruçaram sobre socialidades negras e sexualidades no campo de diversidade sexual e de gênero, como também teorias que focalizam a constituição de diferenças sociais, mais notadamente os estudos interseccionais.
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A cena Ballroom da Grande Florianópolis: Transgeneridade, categorizações locais e experiências dos treinos às balls
Jo P . Klinkerfus
Antropologias em diálogo, 2024
Neste trabalho buscamos realizar uma exploração inicial de um tema ainda pouco abordado pela Antropologia no Brasil: a cena ballroom - cena essa formada majoritariamente pela população trans -, mais especificamente no contexto da Grande Florianópolis. Para tanto, apresentamos a cultura ballroom em sua origem nos EUA, através de uma revisão das produções prévias acerca do tema. Contextualizamos o desenvolvimento desta cena na Região Sul do Brasil e afunilamos a discussão para tratar das especificidades da capital catarinense, desde seu início com a criação da Casa das Feiticeiras em 2018 (primeira casa do Sul do país) até o contexto de 2022 e 2023 com o boom da cena pós-pandemia de COVID-19. Realizamos uma exploração da cena usando tanto materiais de pesquisa construídos em diferentes contextos prévios, como pelas nossas experiências de atravessamento como transidentidades dentro da cena ballroom: desde os treinos abertos em praças públicas até as balls. Nosso objetivo é apresentar àquela que lê as diversas terminologias locais, categorias competitivas e o sistema de casas que organizam esse universo, apontando quais são as principais casas presentes na cena atualmente, apresentando o que são as balls e as kiki balls e detalhando seu funcionamento. A partir desses diversos campos realizados pelas autorias, buscamos dar introdução a uma discussão sobre espaço público e ocupação, descrever as balls do final de 2022 e começo de 2023 e levantar reflexões sobre as experiências e identidades trans na cena ballroom. Por fim, apontamos as possibilidades existentes de pesquisa nesse campo através de uma breve apresentação dos projetos atualmente desenvolvidos pelas autorias dentro da Antropologia.
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Danças Contemporâneas e processos coreográficos no tempo presente - Vanessa Duarte Voskelis
Vanessa Voskelis
Danças Contemporâneas e processos coreográficos no tempo presente, 2021
O presente estudo propõe a discussão acerca das metodologias, estéticas e técnicas das Danças Contemporâneas e das danças afrodiaspóricas estadunidenses além do diálogo com o Instagram e dramaturgias do tempo presente. Afim de ampliar as possibilidades quanto ao ensino de danças possíveis a corpos diversos bem como apresentar alternativas contemporâneas para a compreensão corporal através do processo antropofágico cultural que permeia tanto a minha trajetória em Danças quanto a elaboração e realização desta pesquisa. O campo de estudo foi as aulas que lecionei de Danças Contemporâneas Urbanas no ano de 2019, pelo Laboratório Interdisciplinar em Artes da Cena, LAPIAC/CNPq no Centro de Práticas Corporais da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás. A partir da confluência interartística utilizo como viés as dramaturgias do corpo que servem de apoio metodológico na inserção de saberes convencionais e informais aos estudos em Dança.
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Cuauhtemoc Peranda
2020
O presente artigo propoe uma reflexao sobre a infância queer negra, abordando a producao de genero, raca e sexualidade entre criancas. A partir da imersao em minhas proprias memorias como uma crianca queer negra, relembro modos de experimentacao e subversao de genero e sexualidade, interseccionando com dinâmicas raciais entre corpos infantis. Na sequencia, exponho brevemente o quadro teorico no qual o conceito de infância surgiu e se desenvolveu no Ocidente. Entao, conecto a experiencia da infância queer negra com a vivencia do papel de “crianca” (child) na cena de ballroom & vogue estadunidense, da qual faco parte como membro da House of Lauren. Mostro, assim, maneiras como a comunidade queer negra perturba os paradigmas brancos de infância. Essa ultima parte foi escrita em parceria com o doutorando, voguer e Overall Prince Don’Te Lauren (Cuauhtemoc Peranda).
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A Arte é divina demais para ser normal
Djalma Thürler
Revista Crioula
Os autores discutem, dentro da cena transformista, o que seriam as Drag Queers, aquelas que buscariam performar a drag além da caricatura do feminino, trazendo em suas performances críticas sobre a norma, a normalidade e a normalização da própria cena, enquanto estética colonial, mas, também, marcas sociais da abjeção, da marginalidade e da invisibilidade. A drag queer, se utiliza do feio, do anormal e do monstruoso como positivação de subjetividades marginalizadas de quem são, quase sempre, representantes e desfruta da política queer enquanto modo de autoafirmação.
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